Praça Dom Pedro II em Manaus abriga sítio arqueológico onde foi encontrado cemitério indígena

Em 2003, pesquisadores descobriram cinco urnas funerárias de povos indígenas que habitaram a região muito antes do período colonial. Historiadores destacam a importância do resgate da história indígena.

Escavação realizada para a retirada das urnas — Foto: Keyce Jhones

A Praça Dom Pedro II, no Centro Histórico de Manaus, guarda histórias que remontam a tempos anteriores à Belle Époque. Sob suas estruturas de concreto, erguidas em 1852, há um sítio arqueológico onde historiadores descobriram um cemitério indígena. O g1 foi até o local para resgatar um pouco dessa rica história.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o local onde está a praça foi reconhecido como sítio arqueológico na década de 50 pelo arqueólogo alemão Klaus Hilbert, mas foi apenas no ano de 2003 que houve um processo de pesquisa e escavação, onde foram encontradas cinco urnas funerárias de povos indígenas que habitavam a região bem antes do período colonial.
As urnas funerárias encontradas no local podem ter cerca de 1.500 anos, de acordo com o arqueólogo Eduardo Neves. Veja o vídeo abaixo.
Conforme a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiros, as pesquisas ainda não podem definir a qual etnia pertenciam os indígenas presentes nas urnas funerárias, mas representam a história de diversos povos que viviam na região.
Atualmente as urnas funerárias podem ser observadas no Museu Arqueológico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e no Museu da Amazônia (Musa).
No ano de 2020, a Praça Dom Pedro foi entregue para a sociedade Manauara após uma revitalização. O local onde os artefatos históricos foram encontrados foi sinalizado com marcações pretas na nova cerâmica.


Na praça existem ao menos cinco marcações dessas — Foto: Lucas Macedo/g1 Amazonas

'Histórias sequestradas'

Beatriz Calheiros ainda explica que é preciso que a sociedade enxergue por outro viés a história de Manaus, tendo em vista que a Praça Dom Pedro II é apontada como o marco inicial de Manaus, com a infraestrutura trazida na época da borracha. Entretanto, a história da capital é construída também pelos indígenas que aqui viviam.
"A gente vive um período histórico de retomada, de fortalecimento a partir da luta de organizações de povos indígenas e pesquisadores. Os manauaras podem olhar por outro viés sobre sua própria história. Quem estava antes, como era, a nossa origem, uma convivência que não era pacífica, mas hoje deu o que é nossa sociedade", destacou a superintendente.
A historiadora Izabel Cristine é indígena da etnia Munduruku e afirma que Manaus é uma capital formada pelos povos originários, mas que quase não e possível observar a identidade desses povos na sociedade manauara. Preservar esses lugares é importante para afirmar a existência desses povos.
"Isso mostra que Manaus é uma grande é uma aldeia, porque a presença indígena nesta cidade vem muito antes daquilo que o colonizador chamou de Manaus. Então quando a gente fala de memória nesse sentido, estamos falando também de uma memória ancestral" relatou Izabel.
"Nossas histórias são histórias sequestradas", concluiu a historiadora indígena.

Praça Dom Pedro II

A Praça Dom Pedro II, localizada na rua Bernardo Ramos, Centro da capital, foi nomeada dessa forma em homenagem ao centenário do nascimento do último imperador do Brasil, em 1925
A configuração da praça, de inspiração inglesa, possui, no entanto, jardins em formato orgânico que rompem com as linhas retas e a simetria, uma característica do estilo francês.
Desde 2015, o local recebe anualmente o Festival Sou Manaus Passo a Paço, reunindo milhares de pessoas em uma celebração que mistura música, gastronomia e artes integradas.


Praça Dom Pedro II é considerado o marco inicial da cidade de Manaus — Foto: Lucas Macedo/g1 Amazonas


Veja fotos da pesquisa e escavação


Peças estão atualmente em locais de guarda na cidade de Manaus — Foto: keyce Jones


Peças podem ser datadas de 1.500 anos atrás — Foto: keyce Jones


Urnas em exposição no Museu da Amazônia — Foto: Divulgação

Por Lucas Macedo, g1 AM

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